“Você sempre está trabalhando em função do divertimento das outras pessoas”

A esposa do DJ Mostarda fala do comportamento do marido fora das boates

Por Thiago Silva

         Priscylla Melo Arruda, 25, esposa de Marcelo Arruda, o DJ Mostarda, há cinco anos, conhece de perto a realidade de quem trabalha a noite, tanto por já ter trabalhado com Bargirl em boates do Recife, como também por ter em casa um companheiro que ajuda a completar a renda da família exercendo atividade noturna. Segundo ela, esses profissionais sempre estão trabalhando em função do divertimento das outras pessoas, mas e o seu divertimento, onde fica? “A pessoa nasce com um dom, e ele (Mostarda) tem esse dom de tocar, é uma pessoa experiente, porém eu acredito que essa profissão de DJ, de trabalhar a noite, não é uma coisa que seja legal pra saúde, porque o organismo não agüenta o ritmo exaustivo”, diz.

        O casal tem uma filha de 4 anos e os horários do pai, afeta diretamente o comportamento da criança. Maria Victoria Melo Arruda, gosta de ficar até tarde no computador, gosta de ouvir música até altas horas, e muitas vezes quer acompanhar o ritmo do pai Mostarda, que fica acordado quase todos os dias até 2 horas da manhã. “A minha filha é muito novinha e não pode ficar acordada até essa hora. Ela precisa dormir cedo como toda criança e precisa acordar cedo também. Eu não acho correto ela ficar até tarde no computador”, diz Priscylla, que sempre que pode acompanha Marcelo onde ele toca. Segundo ela, Mostarda é uma pessoa extremamente dócil e tranqüila, mas é definido por ela como um homem vampiro, que passa a madrugada acordado e o dia dormindo.

Crédito: Tiago Brito

O DJ Mostarda produzindo músicas durante intervalo de trabalho na rádio Transamérica           

        A vida social de quem trabalha de noite também é muito complicada, é muito difícil conciliar uma agenda de shows, com o horário livre dos amigos e quase nunca dá pra sair apenas para se divertir. O DJ quando sai para a balada, sempre é para cuidar da sua rede de relacionamentos profissionais. Não é muito difícil encontrar Mostarda em boates do Recife, mas dificilmente ele estará aproveitando o momento de lazer como qualquer outra pessoa.

        A insalubridade das casas de shows e boates mesmo tendo um tratamento acústico adequado, trazem riscos à saúde dos profissionais. “Eu tou[sic] lá trabalhando, curtindo um som, é um ruído legal, é agradável, é diferente do ruído de um avião, mas os decibéis e o prejuízo a audição é praticamente a mesma coisa”, afirma Mostarda. Segundo a fonoaudióloga especialista em audiometria, que é o exame que avalia a audição, Dra. Cristiana Andrade, as pessoas que se expõem durante muito tempo a esse tipo de ruído tem uma grande chance de perda de audição precocemente. “ Eu observo em meu consultório no dia-a-dia que as pessoas que trabalham com som alto como DJ e técnico de som, tem uma perda auditiva antes do tempo e isso pode acabar prejudicando no futuro a saúde desses profissionais”, esclareceu.

        Como em todas as profissões, existe o lado ruim, que é de se trabalhar num período que a maioria das pessoas estão dormindo ou se divertindo, mas para o DJ Mostarda, tocar é o que move, o que impulsiona, algo que faz parte da sua essência, do seu caráter, da sua vida. Tocar para ele é como um divertimento de criança, que associa prazer, bem-estar e desejo de não parar nunca.

        Para os jovens que sonham em ser DJ, Mostarda dá a dica: “Pra você andar com as cobras, você tem que começar de minhoca. Começa de minhoquinha, tenta se espelhar em alguém e não deixe que as pessoas se aproveitem de você porque você é bonitinho, aprendeu a mixar agora e é o DJ do momento, e estude, estude muito”, orientou.