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A serviço da informação

Noites em claro organizando os jornais para serem vendido durante o dia

Por Wilson Neto 

 O encartelador de jornais Diógenes Severino da Silva, de 21 anos, trabalha há quase um ano na empresa AM Serviços que presta serviço para o Diário Associados. Com o privilégio de poucos, ele tem acesso às manchetes do jornal Diário de Pernambuco e do Aqui PE antes de serem comercializados. Diógenes coloca em ordem as páginas e os cadernos do jornal, além dos informes publicitários. Mas se engana quem pensa que ele tem tempo para ler todas as matérias. Durante o período de trabalho, o ritmo é acelerado.

Diariamente, o encartelador sai de casa, no Conjunto Habitacional Hélio Seixas, em Dois Unidos, Zona Norte do Recife, às 20h30, para chegar ao parque gráfico do Diário Associados às 21h15. Esse horário sofre variação em outros dias da semana, como sexta-feira e domingo, pois a quantidade de informações no jornal dita a necessidade de ampliação ou redução da jornada de trabalho.

Crédito: Wilson Neto

diógenes

Diógenes gosta do horário de trabalho, pois tem condições de realizar outras atividades durante o dia, resolver problemas do cotidiano, além de ficar sempre bem informado, mas tem consciência dos riscos que corre ao ir para casa de madrugada. Geralmente, larga às 2h da manhã, o que faz necessário ter coragem e atenção para enfrentar as ruas desertas e conseguir pegar o ônibus que faz a linha Dois Unidos Bacurau, e que passa pontualmente às 2h35. “O ônibus passa a cada uma hora e meia, então se eu perder esse, por algum motivo, só consigo chegar em casa quase 5h da manhã”, ressaltou o encartelador.

Ao chegar no bairro de Dois Unidos, Diógenes continua com medo, pois no local existem vários pontos de venda de drogas e constantes casos de homicídio. “Fico com medo que alguém me confunda com um ladrão ou queira me assaltar. Não tenho nada de valor na bolsa que levo para o trabalho, já para evitar”, revelou Diógenes.

Além dos riscos na volta para casa, os profissionais que atuam como corujas para encartelar os jornais sofrem bastante com as tintas, que são tóxicas e prejudiciais à saúde. Muitos não conseguem se adaptar ao trabalho, pois não utilizam máscaras para se protegerem da inalação do produto. Um teste feito por Diógenes deixou os companheiros de trabalho em alerta. Ele colocou pedaços de algodão no nariz e começou a trabalhar. No final da jornada, os algodões estavam completamente pretos. A partir desse dia, passou a usar máscara, mas sabe que ela apenas reduz o dano e não evita que o conteúdo tóxico chegue aos pulmões.

 

Só consigo dormir quando ele chega

 Por Wilson Neto

O sono de toda família é alterado. Aline Messias Soares, de 22 anos, dona de casa, não consegue dormir enquanto o esposo, Diógenes, não chega do trabalho. Eles têm um filho, Ruan Pablo, 3 anos, e moram na casa dos pais de Aline, junto com mais quatro pessoas. Quando o encartelador chega do trabalho, todos se acordam, pois a residência só possui cinco cômodos em um espaço bastante pequeno.

Há menos de um ano com um parente trabalhando de madrugada, a família tem muitas histórias para contar. Uma delas aconteceu em setembro do ano passado. Era por volta de 3h15 da manhã, quando Aline que estava à espera de Diógenes escutou o som de um tiro. Imediatamente ela correu para o banheiro e viu por uma brecha um homem correndo. A primeira coisa que pensou foi em ligar para o celular do esposo e avisar para ele ficar onde estivesse. Mas ele não atendia o celular, que passou a dar sinal de desligado. Às 3h40, Diógenes ainda não havia chegado em casa. Aline ficou desesperada e acordou toda família. Todos ficaram preocupados. “Depois do tiro, eu pensei que ele tinha sido assaltado ou até morrido. Esse foi o pior dia da minha vida”, ressaltou Aline.

Cinco minutos depois, Diógenes chegou em casa bastante assustado. Ele disse que o celular descarregou quando ia atender a ligação da esposa, o ônibus atrasou e no caminho viu dois cavalos com os olhos vermelhos olhando para ele. Com medo, ele foi correndo para casa. Aline perguntou se ele ouviu o tiro, mas o encartelador afirma que não, o susto foi outro. Do jeito que a história foi contada para os amigos e familiares surgiu uma frase que é bastante usada por todos: “Acredite, se quiser”.


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