"Deixo de viver, para viver a vida dos outros"
Mais conhecido como Dr. Fáfio, conta como é o dia a dia de um médico
Por Tiago Brito
Nascido no bairro do Espinheiro, Região Metropolitana do Recife, Fábio André Ferreira da Silva, 40 anos, nunca conseguiu responder uma famosa pergunta quando era criança: o que quer ser quando crescer? Mesmo indeciso, já pensou em ser jornalista, professor de português, engenheiro químico, além de querer trabalhar em indústrias. No entanto, o desejo de ajudar as pessoas, fez com que a sua vida trilasse para outros caminhos.
Cuidar da saúde. Era esta a resposta que tanto o questionava. Então, optou em estudar medicina. Formado há 4 anos pela Universidade Pernambuco (UPE), cuja especialidade é em clínica médica. Atualmente, trabalha na emergência de um hospital, situado no Jaboatão dos Guararapes. Fábio conta, que se identificou com o Sistema Único de Saúde (SUS), devido à necessidade em dar assistência às pessoas que não tem condições de procurar um médico particular.
“Os primeiros locais que trabalhei foram em Pombos, Glória do Goitá e Feira Nova, lugares que tinham um grande quantitativo de pacientes, mas não tinha o mesmo número de profissionais. É uma área diferente. É de ficar impressionado que hoje em dia tem pessoas que apresentam parasitose, doenças que consideramos de ‘simples’ ´”, afirma.
“Durante essas experiências, o que mais me gratificava, era quando alguém estava com risco de vida e depois de receber alta, agradecer pelo que fizemos. É algo que posso considerar como missão cumprida”, completou, com um sorriso notável em seu rosto. Mas, nem todas às vezes são assim. “Estava cuidando de uma paciente na UTI, que brincávamos todos os dias, era muito alegre. Seu caso se agravou e não resistiu. Tem vezes que não dou aviso de óbito para a família, prefiro que outra pessoa dê a notícia. Também sou humano”, revela.
No decorrer da entrevista, Dr. Fábio estava realizando prescrição médica, dando baixa no sistema e auxiliando os enfermeiros. Diante dessa rotina agitada, existem consequências, que segundo ele, chama de “pagar um preço muito caro.”. “´Vida de médico é assim. Deixa de viver, para viver a vida dos outros. É uma renúncia constante”, confessa.
Conforme os seus depoimentos, perguntamos se trabalhar na noite era prazer ou necessidade. Fábio ficou pensativo antes de responder. “O financeiro influencia muito. Pode ser um pouco dos dois”, respondeu. Ele ressalta, ainda, que no início de sua carreira, ficar de plantão lhe fazia ficar desorientado e não conseguia dormir.
“Tenho insônia e estou acima do peso ideal. Não tenho hora certa para alimentação. Por causa disso, minha alimentação é muito irregular”, relata. “Pensaria duas vezes, mas gosto do que faço”, destaca, ao ser questionado se faria tudo novamente. Um profissional que a vida ensinou a lei da sobrevivência e assume as responsabilidades adquiridas de um serviço, que muitas vezes não é reconhecido.
“Independente de ser particular ou não, atendo o paciente pela sua necessidade. Torna-se desestimulante quando você faz de tudo para ajudar e muitas vezes, é chamado de preguiçoso e grosso. Sempre perdemos a razão”, desabafa. “Além disso, eles ainda argumentam algo que não é do conhecimento. Trabalhamos em dois extremos, ou você é o salvador da vida ou é o pior médico”, pontua.
Com todas as dificuldades, Fábio expressa sua satisfação pela profissão e resume o seu dia a dia, em doação. Para ele, mesmo sendo cansativo, é muito gratificante contribuir com a saúde das pessoas. “Minha casa é o meu trabalho, minha família são os funcionários, minhas visitas são os pacientes”, brinca.